10 de maio de 2012

“Não sou só uma branquelinha séria e discreta”, diz Camila Morgado

(Especial para Agência Estado - 15/02/2012)

A atriz, que estará na próxima novela das nove da Globo, quer tirar o estigma de “densa” que carrega desde “A Casa das Sete Mulheres”.

Foto: Divulgação
Lucas Pasin 

Aos 36 anos, Camila Morgado ainda se julga com pouca experiência na televisão. Preparando-se para viver Noêmia, uma das mulheres de Cadinho (Alexandre Borges), em “Avenida Brasil”, próxima novela das nove da Rede Globo, de João Emannuel Carneiro, com estreia prevista para o final de março, a atriz vê uma oportunidade de tirar qualquer estereótipo e mostrar que “não é só uma branquelinha séria e discreta”.

De novo em um núcleo de humor – a exemplo do que aconteceu em “Viver a Vida”, onde ela interpretou a jornalista Malu – Camila diz que está ansiosa para ver a reação do público e pretende conciliar o trabalho na novela com o espetáculo “Palácio do Fim”, em cartaz em São Paulo. 

As personagens – da novela e do teatro – são bem diferentes. Em “Avenida Brasil” ela será uma “hippie chique” e em “Palácio do Fim” Camila vive uma oficial do exército americano. Um papel difícil e violento, que tirou o sono da atriz.

E o ano de 2012 ainda reserva algumas emoções para Camila Morgado. A atriz se despede do programa “Saia Justa”, do GNT; e participa da minissérie “As Brasileiras”, também na Globo, com uma personagem bem diferente: uma mãe de santo.
Para a atriz, tantos trabalhos diferentes vão possibilitar que ela mostre ao público que é uma atriz completa.

Você estreou na televisão em “A Casa das Sete Mulheres” (2003) e, de lá pra cá, fez duas novelas e duas minisséries. Como encara o trabalho na tevê

CAMILA - Apesar de não ter grande experiência, aprendi muito fazendo TV. É uma linguagem totalmente diferente. Tudo é mais rápido. Nem sempre você tem tempo para construir o personagem e o ator tem que aprender a lidar com isso. Não sei dizer ainda se é pior ou melhor que o teatro, mas gosto muito de fazer.

Muitos te consideram uma atriz “densa”. Como é ser vista dessa forma?

CAMILA – Isso me dá muito medo. No teatro eu nunca tinha ouvido isso. Pelo contrário, sempre trabalhei com muito humor. Mas, de repente, depois de “A Casa das Sete Mulheres”, em que o meu personagem tinha uma carga dramática muito grande e depois com “Olga”, que também tinha essa carga, surgiu o estigma de 'atriz densa'. Lembro quando fiz uma peça com o Gianecchini que ele sempre brincava comigo: 'atriz densa, tensa e intensa'.

Ao interpretar a divertida jornalista Malu, em “Viver a Vida” (2009), você acha que esse estigma diminiu?

CAMILA - Era essa minha intenção. Ela tinha o lance de ser seguida pelo marido da prima, que tinha fantasias sexuais com ela. Ou seja, algo meio gato e rato. Era um plano de fundo que acabou caindo no gosto do público. Quando vi, meus vestidos estavam ficando cada vez mais curtos... A Malu virou um furacão e eu comecei a mostrar meu outro lado de atriz.

Sua nova personagem em “Avenida Brasil” vem para reforçar essa mudança no estereótipo? Como será seu novo papel?

CAMILA - É um núcleo de muito humor. Vou interpretar Noêmia Buarque. Ela será a segunda mulher de Cadinho, personagem do Alexandre Borges. Ele é casado com Verônica (Débora Bloch) e também com uma terceira mulher que vai entrar na trama, personagem de Carolina Ferraz. Noêmia é discreta, refinada e tem um ar de hippie, algo do passado, mas é um hippie chique. Ela é inteligente, com personalidade forte, que contesta os valores. Nenhuma mulher sabe da existência da outra. Para elas só existem elas.

É seu primeiro trabalho com Alexandre Borges e também sua primeira novela com texto do João Emannuel Carneiro?

CAMILA - Sempre admirei o trabalho do Alexandre Borges. Acho que vai ser maravilhoso. Na preparação para a novela nós passamos por testes juntos. Ele foi muito legal, logo de cara. Demos muita risada. Também tenho muita admiração pelo João Emannuel. Ele constroi muito bem os personagens. Estou muito feliz de estar nessa novela.

Quais as características de Noêmia que combinam com você?

CAMILA - Vou responder usando uma resposta que a Vera Holtz costuma usar. Quando eu trabalho com um personagem eu trabalho mais pelo contágio do que pela identificação. Gosto de ser contaminada por ele. Eu acho que identificar é muito raso. Não sei se ela tem a ver comigo por enquanto, ainda não a conheço bem para dizer.

Sua participação no “Saia Justa” também mostrou um pouco mais sobre você. Sua saída foi por causa da novela?

CAMILA - Eu não queria sair do “Saia Justa”, mas, infelizmente, não vou conseguir conciliar com a gravação da novela e deixo o programa em março. Foi muito legal participar. Adoro a equipe e acho que construímos algo que vai ficar. Eles me receberam muito bem e eu não gosto nem de pensar na despedida (risos).

O que a participação no programa agregou em sua carreira?

CAMILA - Foi muito bom sentar naquele sofá e conversar, dar minhas opiniões, que podem ser relevantes ou não. É um programa de comportamento que a gente se diverte. Tem humor e tem assuntos sérios. O mais legal é que as pessoas puderam me conhecer mais, não só na condição de atriz. Conheceram como eu me preparo para os personagens e como estou nessa fase da minha vida.

Já sabe quem vai te substituir?

CAMILA - Ainda não. Só sei que adorei participar.

E como pretende conciliar a novela com o espetáculo em São Paulo?

CAMILA - Ficamos com o espetáculo em São Paulo até março e depois vamos para outras cidades. Acho que nunca tive uma vida tão movimentada. Antigamente estar em tantos trabalhos seria complicado. Eu tratava o personagem quase como uma entidade, sabe? Hoje é mais fácil pra mim ligar os botões e me desligar quando é preciso.

Interpretar uma oficial do exército americano no teatro está sendo difícil para você?

CAMILA - Estou em um papel bem próximo de ser tão importante quanto “Olga” na minha carreira. É um personagem que eu gosto muito por ser complexo e difícil de fazer. Levo rasteira dessa oficial quase todos os dias. Ela é sem moral, completamente contraditória. É uma mulher jovem que acreditou que ia pra guerra porque confia em seu país. Quando chegou no fronte se deparou com todo aquele horror, mas tinha que mostrar que era tão forte quanto os homens. Ela é um exercício de reflexão pra mim e para o público.

2012 ainda traz sua participação na minissérie “As Brasileiras”...

CAMILA - Vou interpretar uma mãe de santo. Um personagem muito carismático, expansivo, que pesa na maquiagem e é quente. Tão quente e tão forte que parece um personagem de Almodóvar. Ela vai aparecer no episódio "Apaixonada de Niterói" e vai se chamar Mãe Vitória.

Mais um personagem que busca mudar seu estereótipo e provar que você pode fazer qualquer papel?

CAMILA - Exatamente. Quando o ator tem essa possibilidade, isso é considerado um presente. É tudo que a gente gosta. Falamos: ‘Olha, estou enganando vocês. Acharam que eu era uma branquelinha, séria e discreta? Não sou nada disso’ (risos). Posso fazer o personagem que eu quero. Se vou fazer bem ou não, eu não sei, mas eu sempre quero quebrar o imaginário do outro.

Há algum projeto em vista para o cinema?

CAMILA - Confesso que eu queria muito fazer cinema. Acho maravilhoso. Adoro assistir e participar. Não há nenhum projeto em vista, mas estou aberta a convites (risos).

Então este ano o seu principal objetivo é mostrar que é uma atriz completa e versátil?

CAMILA – Sim, quero poder ser uma atriz cada vez mais completa, sem ficar presa a um estereótipo. 2012 é um ano para exercitar a minha versatilidade como atriz.

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